Crítica: O escritor fantasma

O escritor fan­tas­ma (The Ghost Writer, França/Reino Unido/Alemanha, 2010), de Roman Polan­s­ki, está gan­han­do bas­tante destaque da mídia, mas pelo moti­vo erra­do, a vida pes­soal do próprio dire­tor em vez da obra em si. Mas deixan­do de lado qual­quer out­ro comen­tário sobre este assun­to, temos um filme onde o enre­do é basea­do no livro, de mes­mo títu­lo, de Robert Har­ris: um escritor fan­tas­ma (Ewan McGre­gor), ou ghost writer, é con­trata­do para escr­ev­er a biografia de Adam Lang (Pierce Bros­nan), o anti­go Primeiro Min­istro Britâni­co. Mes­mo saben­do que é o segun­do escritor a ser chama­do, pois o primeiro aparente­mente come­teu suicí­dio, isto não parece inco­modá-lo, afi­nal não é seu prob­le­ma e vão pagar muito bem.

Sem­pre quan­do um serviço envolve muito din­heiro, já é esper­a­do que vai vir com­pli­cações pela frente. Esta é a úni­ca pista que temos em O escritor fan­tas­ma, de que há algo a mais por trás do que esta­mos acom­pan­han­do. E falan­do em entre­lin­has, muito se tem cog­i­ta­do que Adam Lang seria inspi­ra­do no Tony Blair (prin­ci­pal­mente no livro), e o próprio filme faz algu­mas refer­ên­cias, às vezes bem explíc­i­tas, de out­ros per­son­agens políti­cos (vamos ver quem desco­bre eles) em situ­ações bem recentes. Ape­sar do foco não ser polit­ica­gens, este tema vai muito além de ide­l­o­gias, ques­tio­nan­do a própria noção de quem real­mente são essas fig­uras públi­cas e como elas vivem.

Pos­suin­do um clima/ambiente que lem­brou bas­tante a Ilha do Medo, de Mar­tin Scors­ese, há tam­bém várias pis­tas espal­hadas durante todo o filme (prati­ca­mente nen­hu­ma toma­da é em vão), só que des­ta vez o resul­ta­do da tra­ma não fica logo óbvio no começo. O escritor fan­tas­ma pos­sui o tipo clás­si­co de enre­do em que todos são sus­peitos até que o cul­pa­do final seja encon­tra­do, pois o argu­men­to “até que se prove o con­trário” pode ser, e é, facil­mente for­ja­do o tem­po inteiro. Mas o lon­ga não chega a ser um poli­cial, e o próprio per­son­agem prin­ci­pal nega seu papel como a de um dete­tive par­tic­u­lar e suas ati­tudes tam­bém não con­dizem com a de um.

A decisão de não citar em momen­to algum o nome do escritor fan­tas­ma foi mui­ta boa, pois como o mes­mo disse: “um escritor fan­tas­ma ser con­vi­da­do para a estréia de um livro que escreveu é o mes­mo que con­vi­dar sua amante para ir no seu próprio casa­men­to”. Esta é uma das várias fras­es irôni­cas que acom­pan­ham o lon­ga, trazen­do um ar sar­cás­ti­co o tem­po todo.

O escritor fan­tas­ma não subes­ti­ma em nada a capaci­dade do seu espec­ta­dor, não se uti­lizan­do em nen­hum momen­to de flash­backs, e/ou qual­quer tipo de refer­ên­cia para enfa­ti­zar algo, deixan­do para quem assiste faz­er as próprias lig­ações e mon­tar o grande que­bra cabeça do enre­do. Este é um filme que após ter­mi­na­do, você ain­da fica ain­da por um bom tem­po pen­san­do sobre as mais prováveis teo­rias de des­do­bra­men­to que pode­ri­am ter acon­te­ci­do e que con­tin­u­am depois de seu final.

Para quem está procu­ran­do um filme de sus­pense e de inves­ti­gação, O escritor fan­tas­ma é uma óti­ma escol­ha. Mas este­ja prepara­do para entrar no mun­do de um fan­tas­ma, onde algu­mas coisas entrarão e sairão sem mui­ta expli­cação. Elas serão ape­nas meros vul­tos de um per­son­agem que na ver­dade não existe, ou pelo menos não deveria.

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Trail­er:

httpv://www.youtube.com/watch?v=HqCeeiUzQP8


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Dossiê Daniel Piza
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