Crítica: B1 — Tenório em Pequim

b1 tenorio em pequim

Muitos doc­u­men­tários brasileiros acabam repetindo a fór­mu­la estilís­ti­ca da TV, como Globo Repórter e muitos out­ros, e se no tema pos­sui uma história de super­ação, já se colo­ca todo aque­le melo­dra­ma para enfa­ti­zar ain­da mais tudo. Feliz­mente, B1 — Tenório em Pequim (Brasil, 2010) dirigi­do por Felipe Bra­ga e Eduar­do Hunter Moura, pas­sa bem longe dessas descrições.

Mes­mo sendo o úni­co atle­ta do mun­do a ter con­segui­do qua­tro medal­has de ouro con­sec­u­ti­vas nas Paraolimpíadas, o nome Antônio Tenório da Sil­va, judo­ca brasileiro, ain­da é descon­heci­do para grande parte das pes­soas do país (inclu­sive, eu era uma delas). Em B1 — Tenório em Pequim, acom­pan­hamos a tra­jetória do atle­ta des­de sua preparação para ser um dos can­didatos a par­tic­i­par das paraolimpíadas, até a sua luta final em Pequim.

Para quem nun­ca teve con­ta­to com uma paraolímpia­da, em B1 — Tenório em Pequim vai con­hecer um pouco mais seu fun­ciona­men­to, e perce­berá que ela não é muito difer­ente da olimpía­da tradi­cional. Out­ra coisa inter­es­sante é que tam­bém há pes­soas que ten­tam burlar o sis­tema, só que em vez de ser por dopping, atle­tas fin­gem debil­i­dades, neste caso a difi­cul­dade de enx­er­gar, pois o val­or da medal­ha é igual, no mun­do esporti­vo. Além dis­so, tam­bém é expli­ca­do o porque do nome B1, pre­sente no títu­lo do filme, e qual as impli­cações dele.

Durante todo o doc­u­men­tário, somos não somente apre­sen­ta­dos a todo esse mun­do do judô prat­i­ca­do por Tenório, mas tam­bém a sua própria pes­soa, den­tro e fora dos tatames. A par­tir de entre­vis­tas feitas para out­ras pes­soas, durante a fil­magem de B1 — Tenório em Pequim, e por depoi­men­tos feitos para o próprio filme, con­hece­mos um pouco mais da sua história, como por exem­p­lo dos aci­dentes que o tornaram cego, mas nun­ca de maneira melo­dramáti­ca. Parte do filme tam­bém foca em out­ros luta­dores, ape­sar de no final não ficar­mos mais saben­do qual foi o resul­ta­do deles na competição.

Com a câmera muitas vezes estáti­ca, pos­suí­mos uma visão mais ampla das lutas, que dá uma liber­dade maior de escol­ha no que focar. Para quem não gos­ta muito do esporte, pode achar cer­tos momen­tos meio cansati­vo essas cenas, mas não chega a ser ente­di­ante. No final do filme há uma grande mudança de rit­mo, enquan­to na maior parte do tem­po temos prati­ca­mente só som ambi­en­tal, com uma tril­ha sono­ra bem agi­ta­da e e tomadas mais ráp­i­das, enfa­ti­zan­do o grande momen­to da com­petição, que aca­ba geran­do um estran­hamen­to. Além dis­so, há todo uma con­strução de um sus­pense total­mente desnecessário a respeito do resul­ta­do da com­petição, ape­sar de haver uma toma­da com uma saca­da muito boa.

Um dos grandes prob­le­mas téc­ni­cos da equipe foi a difi­cul­dade em gravar o som, prin­ci­pal­mente pelo grande número de barul­ho no ambi­ente, e em alguns momen­tos as vozes dos per­son­agens é baixa demais, difi­cul­tan­do o entendi­men­to de cer­tos diál­o­gos. Talvez isso ten­ha se dado pelo uso de um equipa­men­to mais sim­ples, por ser uma pro­dução menor, mas mes­mo assim, se con­seguiu tirar um bom proveito dele. Um recur­so inter­es­sante uti­liza­do em cer­tos momen­tos do filme, foi que enquan­to a câmera foca­va uma luta, ouvíamos em destaque a voz do téc­ni­co. Isto se deve a uma afir­mação fei­ta por Tenório, durante o lon­ga, dizen­do que durante a luta a sua audição fica foca­da na voz do téc­ni­co, que é uma das coisas mais impor­tantes a se faz­er como luta­dor. Aliás, durante B1 — Tenório em Pequim, tam­bém somos apre­sen­ta­dos a voz de um pro­gra­ma de leitu­ra de tex­to para com­puta­dor, lendo cer­tos tre­chos do diário do Tenório, o que reforça o tem­po inteiro a importân­cia do som na sua vida.

B1 — Tenório em Pequim é uma óti­ma opor­tu­nidade para não só con­hecer mais sobre uma figu­ra impor­tante no esporte brasileiro e o próprio fun­ciona­men­to das paraolimpíadas, mas tam­bém para acom­pan­har uma história de luta, per­sistên­cia e super­ação ape­sar de todas as difi­cul­dades e limitações.

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Trail­er:

httpv://www.youtube.com/watch?v=3C4njl-N45M


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