Crítica: O estranho em mim

o estranho em mim

Faz­er filmes para con­sci­en­ti­zar os espec­ta­dores de um deter­mi­na­do problema/fato, sem ser “educa­ti­vo” demais, não é uma tare­fa fácil. O estran­ho em mim (Das Fremde In Mir, Aeman­ha, 2008), de Emi­ly Atef, além de abor­dar temas como a comu­ni­cação e relações humanas em ger­al, tem como pano de fun­do a depressão pós-par­to, uma doença cujos peri­gos muitas pes­soam desconhecem.

Rebec­ca (Susanne Wolff) e Julian (Johann von Bül­low) for­mam um casal apaixon­a­do e feliz que estão esperan­do seu primeiro fil­ho. Tudo parece per­feito até que a cri­ança nasce e a mãe tem seu primeiro con­ta­to com o bebê, logo após o par­to. É pos­sív­el niti­da­mente ver em sua expressão que há algo de erra­do, pois toda aque­la feli­ci­dade e expec­ta­ti­va sim­ples­mente some. Nas sem­anas seguintes acom­pan­hamos o crescer de uma repul­sa, assim como total indifer­ença, em relação ao bebê.

Todas essas situ­ações tor­nam o cli­ma do filme muito ten­so, chegan­do até a beirar o insu­portáv­el em cer­tas cenas. Você sim­ples­mente dese­ja que tudo se resol­va logo, pois não aguen­ta mais tan­ta ten­são. Na sessão que assisti O estran­ho em mim, que esta­va lota­da, era claro perce­ber um cer­to incô­mo­do entre as out­ras pes­soas que tam­bém o assis­ti­am, na maior parte do tem­po em silên­cio abso­lu­to, total­mente imer­sos nos acon­tec­i­men­tos e quan­do chega­va em uma cena mais pesa­da, todos se retor­ci­am e não par­avam qui­etos na cadeira. Ape­sar da per­son­agem prin­ci­pal ir para ter­apia e ter pro­gres­so em seu proces­so, a sen­sação descon­fortáv­el per­petu­ou até mes­mo após a saí­da da sala de cinema.

O esti­lo sim­plista da pro­dução de O estran­ho em mim lem­brou bas­tante os filmes do movi­men­to Dog­ma 95. O uso da hand­cam em algu­mas tomadas cri­am a sen­sação que acom­pan­hamos lit­eral­mente os pas­sos de Rebec­ca. Out­ras car­ac­terís­ti­cas como: som do ambi­ente nat­ur­al, pou­ca ou nen­hu­ma luz arti­fi­cial e locações reais usadas como cenário, pro­por­cionaram um mer­gul­ho ain­da maior na tra­ma do filme. Há uma toma­da envol­ven­do um bebê e uma ban­heir­in­ha, que de tão chocante que é a sua intenção, perde-se a noção de que é ape­nas uma fic­cão e não algo doc­u­men­tan­do um fato real­mente ocorrido.

O filme usa a tril­ha sono­ra de maneira muito pon­tu­al, prati­ca­mente sendo só acom­pan­hado pelo som do ambi­ente e da voz dos per­son­agens. Os ápices de ten­são em O estran­ho em mim são todos acom­pan­hados dess­es “silên­cios”, com­pro­van­do mais uma vez que não é pre­ciso ficar entupin­do o espec­ta­dor de melo­dias para assim con­seguir provo­car algum sen­ti­men­to. Tam­bém é indis­pen­sáv­el citar a óti­ma atu­ação de Susanne Wolff, que foi indis­pen­sáv­el nesse proces­so de envolvi­men­to com a sua situ­ação e ações.

O estran­ho em mim não é um filme de fácil digestão, com um cli­ma extrema­mente ten­so e frio, e para alguns, “alemão” demais. Mas ele é váli­do jus­ta­mente pela própria exper­iên­cia que causa e tam­bém como um óti­mo meio de con­sci­en­ti­zar as pes­soas sobre a gravi­dade da depressão pós-parto.

Out­ras críti­cas interessantes:

Trail­er: (infe­liz­mente sem leg­en­da, se alguém achar um leg­en­da­do por favor avise)

httpv://www.youtube.com/watch?v=s4-p3aM5k3U


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