Café Literário: Marçal Aquino e Laerte

As relações entre Lit­er­atu­ra, Cin­e­ma, TV e Quadrin­hos, hoje, giram em torno da questão da adap­tação. É fre­quente a dis­cussão sobre as for­mas que os meios audio­vi­suais se apro­pri­am da lin­guagem literária. Foi per­me­a­do por essa polémi­ca que o quadrin­ista Laerte e o roteirista Marçal Aquino fiz­er­am um debate medi­a­do por Mar­i­ana Sanchez, dia 06 de out­ubro no Café Literário da Bien­al do Livro Paraná 2010.

Laerte é car­tunista e um dos maiores quadrin­istas do Brasil, pub­li­ca tiras nos prin­ci­pais jor­nais do país e atual­mente tam­bém no seu site Man­u­al do Mino­tau­ro. Marçal Aquino é roteirista, escritor e jor­nal­ista e assi­na roteiros de filmes como Os Mata­dores e O Cheiro do Ralo. Ambos os con­vi­da­dos tem uma vas­ta exper­iên­cia da imagem como lin­guagem, seja ela no for­ma­to de HQs ou em roteiros para o audio­vi­su­al. Laerte defende mais a Tele­visão e as pro­duções em seri­ados, falan­do muitas vezes que a qual­i­dade da TV não é de todo ruim, já Marçal Aquino é um defen­sor do Cin­e­ma como lin­guagem imagéti­ca e dialo­ga muito sobre a importân­cia da Lit­er­atu­ra para um roteirista.

A exper­iên­cia de ambos é que pon­tua as duas opiniões durante a dis­cussão. Um dos pon­tos altos do debate acon­te­ceu quan­do o assun­to se situ­ou na adap­tação de livros e quadrin­hos para a tela dos cin­e­mas. Marçal diz que ¨Cin­e­ma é que nem suru­ba, pre­cisa de mais gente para faz­er¨ se con­trapon­do com o ato solitário da escri­ta. Ain­da, diz que essa pre­mis­sa de que o livro é sem­pre mel­hor que o filme é ver­dadeira levan­do em con­ta que as duas lin­gua­gens são com­ple­ta­mente difer­entes e que não há uma neces­si­dade de fidel­i­dade entre os dois, afi­nal ¨tex­to não tem dono quan­do vai ser adap­ta­do para out­ro meio”.

Para Laerte, não há certeza que o livro seja mel­hor, mas que fre­quente­mente é. Ele cita o filme Uma História sem Fim como refer­ên­cia de adap­tação porque o roteirista teve a sabedo­ria de se lim­i­tar pegan­do ape­nas uma parte da história para que fos­se algo viáv­el. O quadrin­ista comen­ta sobre a adap­tação do seu tra­bal­ho Piratas do Tiête, afir­man­do que Otto Guer­ra é um herói da ani­mação nacional e que o filme não será mais basea­do ness­es per­son­agens, mas sim em tiras feitas nos últi­mos anos, que são mais gerais e sem personagens.

Laerte lev­an­ta muitas car­ac­terís­ti­cas pio­neiras das HQs que servi­ram de inspi­ração para os esti­los de tomadas no Cin­e­ma. Ambos os palestrantes con­seguiram o tem­po todo com­pro­var com vários ele­men­tos esse diál­o­go que com­põe o tripé Cinema/HQs/Literatura. Marçal tam­bém afir­ma que hoje é quase impos­sív­el ter um roteiro total­mente orig­i­nal, sem refer­ên­cias na lit­er­atu­ra, afi­nal hoje as artes são polifôni­cas e dialogam entre si.

Out­ro pon­to da dis­cussão foi a questão do papel do artista e da sig­nifi­cação social da palavra Arte. Laerte afir­ma ter difi­cul­dades com ess­es ter­mos e que para ele isso não tem tan­ta importân­cia porque para faz­er quadrin­hos é pre­ciso ape­nas de papel, cane­ta e com­puta­dor, para pesquis­ar ima­gens no google. Marçal tam­bém se mostra pouco inter­es­sa­do em rotu­lações artís­ti­cas, afir­man­do que faz o que real­mente gos­ta e que vê de for­ma favoráv­el ele não viv­er de lit­er­atu­ra, se per­mitin­do escr­ev­er só quan­do tem von­tade ou uma coisa bacana para dizer.

Marçal final­iza seu dis­cur­so com um grande elo­gio á obra de Laerte, afir­man­do a todos pre­sentes que eles estavam pres­en­cian­do um momen­to muito impor­tante com um grande artista. Além dis­so, chama a atenção para o fato de que os seus quadrin­hos são um dos poucos que podem ser con­ta­dos para out­ra pes­soa, sem pre­cis­ar do apoio visu­al feito pelo desenho.

Foram muitos os assun­tos per­ti­nentes nesse Café Literário, na Bien­al do Livro Paraná 2010, os três tópi­cos Cinema/HQs/Literatura são muito amp­los, prin­ci­pal­mente quan­do se colo­ca dois artis­tas ampla­mente lig­a­dos nes­sas áreas para debater. O que ficou níti­do é que hoje, em âmbito con­tem­porâ­neo, é prati­ca­mente impos­sív­el uma arte se desven­cil­har de out­ra, por­tan­to há sem­pre a neces­si­dade de dis­cussão de diál­o­go entre elas.

O inter­ro­gAção gravou em áudio todo esse bate-papo e se você quis­er pode escu­tar aqui pelo site, logo abaixo, ou baixar para o sue com­puta­dor e ouvir onde preferir.

Ouça a palestra com­ple­ta: (clique no link abaixo para ouvir faça o down­load)

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