Crítica: Os Famosos e os Duendes da Morte

O ano de 2010 tem sido, defin­i­ti­va­mente, o ano de lança­men­to de pro­duções ousadas (e mar­avil­hosas) no cin­e­ma nacional. Seguin­do a leva dos filmes mais metafóri­cos e sen­so­ri­ais Os Famosos e os Duen­des da Morte (Brasil, 2010), de Esmir Fil­ho vem para entrar na lista dos lon­gas que ren­o­vam a lin­guagem cin­e­matográ­fi­ca brasileira.

O lon­ga é basea­do, e livre adap­ta­do, do livro homôn­i­mo de Ismael Can­ne­pelle, que inclu­sive atua no filme. O pro­tag­o­nista seria mais um garo­to aparente­mente comum se não encar­asse de for­ma tão oníri­ca o seu sen­ti­men­to de deslo­ca­men­to. Ele mora numa cidade do inte­ri­or do Rio Grande do Sul, vive através das músi­cas do Bob Dylan, não tem muitos ami­gos e se acha deslo­ca­do do que ele chama de ¨um ban­do de colonos¨. A história dele se mis­tu­ra com as de out­ras pes­soas que sen­ti­am a mes­ma neces­si­dade de fuga dele. A bus­ca de uma vida vir­tu­al, as lem­branças e a iden­ti­fi­cação com a irmã de um ami­go fazem dele cada dia mais dis­tante do espaço geográ­fi­co em que vive.

O filme É uma história sen­so­r­i­al, uma viagem lomo­grá­fi­ca pelo inte­ri­or do sul do país e pelos sen­ti­men­tos daque­les que vivem muitas vezes iso­la­dos, não de for­ma social, mas com uma solidão que se com­preende com as ima­gens bucóli­cas da peque­na cidade, que a câmera insiste em focar. Os Famosos e os Duen­des da Morte se apro­pria de maneira poéti­ca da lin­guagem literária do livro, transpon­do os sen­ti­men­tos do garo­to com cur­tas ima­gens exper­i­men­tais dos out­ros per­son­agens, deixan­do mais evi­dente a sua fuga, nem que seja por lem­branças que não pertençam a ele. A própria lin­guagem audio­vi­su­al é trata­da de for­ma met­alin­guis­ti­ca, pois o garo­to mescla as ima­gens vis­tas na inter­net com os sen­ti­men­tos e lem­branças que pos­sui, mostran­do a exper­iên­cia dele como espectador.

Esmir Fil­ho acer­ta em Os Famosos e os Duen­des da Morte não somente por ousar adap­tar uma obra pouco con­heci­da escri­ta por um jovem, mas tam­bém por realçar a história com atores-per­son­agens da região, todos de primeira viagem. Os sotaques, os cos­tumes e o pas­seio das cenas pela cidade deixa tudo muito mais real, uma espé­cie de poe­sia doc­u­men­ta­da, mudan­do o foco cos­tumeiro do norte para o sul do país. Out­ro pon­to, que fun­ciona de for­ma retóri­ca no filme, é que nada fica claro demais nas cenas, é necessário o uso dos sen­ti­dos para se dese­jar ter respostas do que se vê na tela.

Os Famosos e os Duen­des da Morte foi apre­sen­ta­do na Mostra Inter­na­cional de São Paulo de 2009 e rece­beu pre­mi­ações em inúmeros fes­ti­vais. Esse é o primeiro lon­ga de Esmir Fil­ho, que ficou con­heci­do pelo cur­ta-viral Tapa na Pan­tera de 2006. Uma bela estréia do jovem paulis­tano, com um filme que ousa mes­mo como cin­e­ma e abusa das sim­bolo­gias para os espec­ta­dores mais atentos.

Trail­er:

httpv://www.youtube.com/watch?v=4fBUjaii4kw


Todas as informações e opiniões publicadas no interrogAção não representam necessariamente a opinião do portal, e são de total responsabilidade dos seus respectivos autores.
 
This entry was posted in Cinema, Críticas and tagged , , , , , , . Bookmark the permalink. Post a comment or leave a trackback: Trackback URL.


Post a Comment

Your email is never published nor shared. Required fields are marked *

*
*

You may use these HTML tags and attributes: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>

Dossiê Daniel Piza
Spirallab