Crítica: Tudo Pode dar Certo

Nem somente de Hol­ly­wood e block­busters que sobre­vive o cin­e­ma amer­i­cano, e é de um típi­co Nova Iorquino que o cin­e­ma autoral dos EUA se afir­ma hoje: Woody Allen. Em Tudo Pode Dar Cer­to (What­ev­er Works, EUA, 2009) o esti­lo sar­cás­ti­co e pes­soal do dire­tor se man­tém firme, mostran­do o por quê ele ain­da está longe de se aposentar.

Boris (Lar­ry David) é um nar­ci­sista frustra­do e um físi­co aposen­ta­do que não se con­for­ma de não ter gan­ho prêmio Nobel. Ele faz total­mente jus de ser um per­son­agem de Woody Allen: mal humora­do, niilista nato, vive uma descrença total na humanidade e nar­ra tudo em primeira pes­soa. A rabug­ice de Boris parece estar a pon­to de ser ameniza­da com o surg­i­men­to da jovem inte­ri­o­rana Melody (Evan Rachel Wood), uma garo­ta cheia de son­hos que vai a Nova Iorque para colocá-los em práti­ca. Ela aca­ba sendo o par per­feito do vel­ho Boris, uma garo­ta sim­ples que não recla­ma em ser trata­da como bur­ra e que aca­ta tudo que ele diz. Tudo vai bem até o momen­to em que a mãe da garo­ta aparece e muda a boa roti­na de Boris e Melody.

Tudo Pode Dar Cer­to aparente­mente se apre­sen­ta ape­nas como uma comé­dia para man­ter o vel­ho sor­riso no ros­to, mas a críti­ca vai muito além. O dire­tor, já há muito des­gos­toso com os cole­gas hol­ly­wood­i­anos, crit­i­ca logo no íni­cio a neces­si­dade de entreter o espec­ta­dor que no fim das con­tas está ali colab­o­ran­do para a boa-vida de quem pro­duz­iu o filme.

Woody Allen não poupa nem a si mes­mo como per­son­agem prin­ci­pal e acabou crian­do um estereótipo que quase sem­pre fun­ciona. Boris é uma ver­são fisi­ca­mente mais alin­ha­da de Allen, mas em tem­pera­men­to cor­re­sponde a todos os boatos sobre ele. Para quem con­hece um pouco mais da vida do dire­tor, Tudo Pode Dar Cer­to parece um rela­to de como andam as coisas para ele: vel­ho, ranz­in­za, hipocon­dría­co, exces­si­vo em rep­re­sen­tar suas opiniões e inclu­sive, brin­ca com a sua fama de pedófilo.

O dire­tor nova-iorquino repete o esti­lo de A Rosa Pur­pu­ra do Cairo cor­tan­do a lin­ha tênue entre o cin­e­matográ­fi­co e o espec­ta­dor. Em Tudo Pode Dar Cer­to, Boris dialo­ga com o além-tela de for­ma muito inti­ma, tor­nan­do o espec­ta­dor cúm­plice da ficção. A nar­ra­ti­va cômi­ca, áci­da e ínti­ma de Allen lem­bra os tex­tos de Macha­do de Assis onde o nar­rador man­tém laços com o leitor, inclu­sive fazen­do piad­in­has irôni­cas sobre os per­son­agens do enre­do. Não á toa que cer­ta vez ques­tion­a­do sobre o que con­hecia do Brasil, o dire­tor disse que havia lido livros do autor de Dom Cas­mur­ro.
O cin­e­ma de Woody Allen é basi­ca­mente roteiro e boas atu­ações, afi­nal não deve ser muito fácil encar­nar os per­son­agens cri­a­dos por ele. Tudo Pode Dar Cer­to não foge dis­so, até diria que ele retor­na ao esti­lo de diál­o­gos cotid­i­anos exis­tentes em Noi­vo Neuróti­co, Noi­va Ner­vosa. Tam­bém, a escol­ha de um come­di­ante para o papel prin­ci­pal foi óti­ma. Lar­ry David é polêmi­co e inter­pre­ta um alter ego sen­sa­cional do dire­tor, real­mente faz o filme funcionar.

Mes­mo que Em Tudo Pode Dar Cer­to ven­ha dis­farça­do de polêmi­cas e piadas autorais não deixa de ser uma bela saca­da do dire­tor para se sobres­sair ao meio dos enlata­dos, que hoje mais do que nun­ca, a indús­tria audio­vi­su­al amer­i­cana vem pro­duzin­do. Woody Allen gan­ha por chamar o espec­ta­dor pela comi­ci­dade dos fatos cotid­i­anos e prin­ci­pal­mente na sin­ceri­dade con­si­go mes­mo, mostran­do que mes­mo as coisas estando estra­nhas, no fim tudo pode cer­to. Depen­den­do, é claro, da for­ma que se vê.

Out­ras críti­cas interessantes:

Trail­er:

httpv://www.youtube.com/watch?v=F7jk1LKqGRY


Todas as informações e opiniões publicadas no interrogAção não representam necessariamente a opinião do portal, e são de total responsabilidade dos seus respectivos autores.
 
This entry was posted in Cinema, Críticas and tagged , , , , , , . Bookmark the permalink. Post a comment or leave a trackback: Trackback URL.


Post a Comment

Your email is never published nor shared. Required fields are marked *

*
*

You may use these HTML tags and attributes: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>

Dossiê Daniel Piza
Spirallab