O Futuro do Livro: Elvira Vigna

A dis­cussão em torno dos dire­itos autorais vem gan­han­do um destaque impor­tante nas mídias e, inclu­sive, nos meios políti­cos, como vem acon­te­cen­do na dis­cussão da reti­ra­da do selo Cre­ative Com­mons no site do Min­istério da Cul­tura (lei mais sobre aqui). Pen­san­do na polêmi­ca sobre o futuro do livro, é impor­tante saber como um escritor, profis­sion­al que vive das palavras em um país em que os índices de leitu­ra são baixís­si­mos, vê todo esse alarde sobre o fim do livro impresso.

As for­mas de encar­ar essas pre­visões podem vari­ar bas­tante, há quem pule da ponte sem antes nem pen­sar, e há os otimis­tas, pron­tos para qual­quer nova empre­ita­da. Essa segun­da visão é o caso da escrito­ra Elvi­ra Vigna, que além de romancista tra­bal­ha com tradução e arte.

Elvi­ra cedeu essa breve entre­vista na Bien­al do livro Paraná 2010 , no dia a escrito­ra par­ticipou do Café Literário, pro­movi­do no even­to, jun­ta­mente com o escritor Luiz Ruffa­to. O assun­to da mesa era Lit­er­atu­ra: um ato de resistên­cia? Nesse momen­to a auto­ra afir­mou que acred­i­ta que a Inter­net é hoje o mel­hor meio de fomen­tar e incen­ti­var a Cri­ação Literária, prin­ci­pal­mente pela cria­tivi­dade que ela per­mite ao escritor a ousar no esti­lo e cita, inclu­sive, os 140 car­ac­teres do Twit­ter como uma dessas novas téc­ni­cas de criação.

Um dos pon­tos mais inter­es­santes na fala de Elvi­ra é a afir­mação que a Inter­net não atra­pal­ha e nem vai destru­ir o livro impres­so, pelo con­trário, ela vê a web como um canal de divul­gação impor­tan­tís­si­mo do mes­mo. E ain­da, pede para que os artis­tas não se assustem com as novas for­mas de se encar­ar a auto­ria, com as licenças livres, e que sim, apren­dam a lidar com isso a seu favor.

Elvi­ra, fale um pouco mais sobre a sua ideia de inter­net, de que for­ma isso se comu­ni­ca com a lit­er­atu­ra? Mui­ta gente acha que a inter­net vai matar o livro, que ela está embur­recen­do as pes­soas. Inclu­sive, há um escritor chama­do Steven John­son que escreve sobre a inter­net e os videogames estarem crian­do um novo tipo de inteligên­cia. Mas ain­da e há mui­ta gente que ain­da pre­cisa do livro físico…
Elvi­ra: Uma coisa que se vê muito é a inter­net, ain­da sob o pon­to de vista cap­i­tal­ista, como um canal de ven­da de livro. Então você fala: ¨Não, aju­da a lit­er­atu­ra porque é um canal de ven­da e de dis­tribuição. Ao invés de você dis­tribuir o papel, man­da o arqui­vo para a pes­soa imprim­ir lá”. Aí tem vários exem­p­los, como a bib­liote­ca do Google e a Ama­zon, que é a maior vende­do­ra de livros e não sei o quê. O meu pon­to não é esse, o meu pon­to é que a inter­net, por revi­talizar uma maneira de resig­nifi­cação, que é através da palavra, é absur­da­mente rev­olu­cionária. Não porque ela ain­da tá venden­do livro, que isso ain­da é uma função do pon­to de vista cap­i­tal­ista, de quem ain­da tá pen­san­do na ven­da tradi­cional. Tan­to faz se você está venden­do o arqui­vo eletrôni­co ou em papel, você está venden­do. O meu pon­to de vista é que a inter­net está for­man­do uma maneira de ver o mun­do abso­lu­ta­mente nova e isso para mim é mar­avil­hoso. Que bom que eu estou viven­do nes­sa época!

Isso lem­bra muito a dis­cussão de pirataria, o que você acha dis­so na Internet?
Elvi­ra: Como eu já te disse, eu ten­ho uma for­mação em Arte. Se você pega a História da Arte, você vai ver que a função estéti­ca nem sem­pre foi remu­ner­a­da, nem sem­pre foi val­oriza­da como uma coisa sep­a­ra­da. Então se você fazia cerâmi­ca, uma boni­ta cerâmi­ca ou de uma for­ma boni­ta, como um tatu boni­to de cerâmi­ca, você era um bom ceramista, você não era um artista porque você sabia faz­er um tatu, você só era um bom ceramista. Então, na história da humanidade você vai pegar épocas, e épocas lon­gas, em que a função do cri­ador não esta­va nec­es­sari­a­mente desvin­cu­la­da de uma utilidade.

Então eu acho assim, que hoje a nar­ra­ti­va pode estar voltan­do para uma neces­si­dade de ¨con­tar¨, que pode ser inclu­sive oral. Porque quan­do eu falo que a inter­net é um instru­men­to de lit­er­atu­ra, eu não estou nec­es­sari­a­mente falan­do só da escri­ta, pode ser a oral tam­bém. Oral nesse sen­ti­do: de você trans­mi­tir ao out­ro uma nar­ra­ti­va, uma história, que é uma maneira de você dar sig­nifi­ca­do ao mun­do. Então, não nec­es­sari­a­mente, o cara que inven­ta pre­cisa ser remu­ner­a­do por isso dire­ta­mente, pode ser indi­re­ta­mente. Eu acho que está mudan­do. O que que vai acon­te­cer? Eu não sei, se eu soubesse esta­va rica, não sei. A gente pre­cisa ficar aber­to, porque a defe­sa incondi­cional do copy­right, hoje, me parece deslocada.

Falan­do nis­so, você con­hece as licenças Copy­left e Cre­ative Com­mons?
Pois é, tem maneiras de você flex­i­bi­lizar isso, porque eu acho que a função exclu­si­va do artista é uma coisa que pode estar mudan­do. Já foi assim antes, a gente não pre­cisa mor­rer de susto.

Você usa algu­ma dessas licenças?
Elvi­ra: No meu site, todos os livros que não estão mais em cat­a­l­o­go estão disponíveis. Você entra lá, você baixa, você curte, se quis­er gan­har din­heiro com isso tem que me pedir licença e se não for gan­har din­heiro com isso, aprovei­ta a vontade!

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