Ali Boma Ye: dois livros sobre Muhammad Ali

Muham­mad Ali teve em sua car­reira 56 vitórias (37 por nocaute) e 5 der­ro­tas ape­nas. Há 30 anos sofre do Mal de Parkin­son. Nos anos 60 foi o maior atle­ta que o mun­do con­heceu e a Com­pan­hia das Letras relançou em ver­são de bol­so dois livros impor­tantes sobre o pugilista na coleção Jor­nal­is­mo Literário.

Em 1998, ano em que o boxe já não tin­ha mais o mes­mo prestí­gio dos anos 60, o jor­nal­ista David Rem­nick, hoje edi­tor da revista New York­er, lançou o livro O Rei do Mun­do (Cia das Letras, tradução de Cel­so Nogueira, 376 pag.), onde a tra­jetória de Cas­sius Clay é con­ta­da des­de seu iní­cio no esporte, suas excen­t­ri­ci­dades (Ali cos­tu­ma­va con­ced­er lon­gas entre­vis­tas falan­do do quan­to era O Mel­hor (The Great­est) e caça­va seus adver­sários na rua para provo­ca-los), a con­ver­são ao islamis­mo (mudan­do seu nome para Muham­mad Ali) e os títu­los que o consagraram.

Rem­nick não ape­nas foca na vida do luta­dor como vai nar­rar tam­bém os basti­dores da crôni­ca esporti­va da época, os movi­men­tos raci­ais em ascen­são (Mal­colm X era ami­go de Ali, mas depois romper­am relações dev­i­do às divergên­cias de Mal­colm com a Nação do Islã), o sub­mun­do do esporte (as lig­ações estre­itas com a máfia retrata­da na vida de Son­ny Lis­ton). Para quem não con­hece a história de Ali, comece por O Rei do Mun­do.

Per­son­agem no livro de David Rem­nick, Nor­man Mail­er escreveu A Luta (Cia das Letras, tradução de Clau­dio Weber Abramo, 232 pag.) em 1975 (dez anos após os even­tos nar­ra­dos em O Rei do Mun­do). O livro de Nor­man Mail­er veio ao mun­do com o que ele chama­va de preparo para, segun­do sua própria definição, O Grande Romance amer­i­cano do qual nun­ca nos deu, mas chegou muito perto. 

Após perder o títu­lo de Campeão dos Pesos Pesa­dos ao se recusar a lutar no Viet­nã, Ali vai até o Zaire lutar con­tra o então campeão George Fore­man, que se aci­den­ta durante o treino e atrasa em um mês aque­la que se tornou uma das lutas mais acla­madas do boxe. Mail­er é tão per­son­agem quan­to os dois luta­dores, par­tic­i­pan­do de uma lon­ga cor­ri­da com Ali e indo a uma car­tomante jun­to com o jor­nal­ista George Plimp­ton pra saber quem vence­ria a dis­pu­ta. Nor­man tam­bém rela­ta a pobreza que se encon­tra­va o país africano coman­da­do pelo dita­dor Mobu­tu Sese Seko e as peripé­cias de Don King, o empresário fan­farão que orga­ni­zou o evento. 

Ape­sar dos dois livros terem o mes­mo per­son­agem prin­ci­pal, O Rei do Mun­do não sep­a­ra o boxe da políti­ca (des­de 1950, a maio­r­ia dos pesos pesa­dos eram com­pos­ta por negros), e uma amostra do con­fli­to racial da época é exem­pli­fi­ca­da na luta entre Floyd Pat­ter­son e Son­ny Lis­ton, onde o primeiro é o negro lib­er­al, a favor da tol­erân­cia racial con­tra o negro estereoti­pa­do: Lis­ton era con­sid­er­a­do caso per­di­do, com pas­sagens pela cadeia e lig­ação com o crime orga­ni­za­do. Esse ter­reno é arma­do par medir o impacto que seria a figu­ra de Cas­sius Clay no esporte. David tam­bém pres­ta um trib­u­to à crôni­ca esporti­va da época, relem­bran­do A. J. Liebling, Gay Talese (que escreveu um emo­cio­nante per­fil de Floyd Pat­ter­son), James Bald­win e suas desavenças com Nor­man Mail­er. Todo o tra­bal­ho de pesquisa feito por Rem­nick con­tribuiu para um óti­mo livro tan­to sobre boxe como para o que o foram os anos 60.

A Luta, é o clás­si­co do jor­nal­is­mo literário e da imer­são. Mail­er não faz con­cessão algu­ma quan­to sua par­tic­i­pação nos even­tos e o colo­ca como um per­son­agem tão par­tic­i­pa­ti­vo quan­to Ali e Fore­man. Ali é um mis­tério que Mail­er vai desven­dan­do ao lon­go do livro e assim como é tam­bém o dita­dor Mobu­tu Sese Seko, que para con­ter uma pos­sív­el onda de vio­lên­cia con­tra tur­is­tas estrangeiros no dia do even­to, man­dou reunir mais de mil crim­i­nosos no vestiário do está­dio onde seria a luta e man­dou exe­cu­tar cem deles como um avi­so para o que iria acon­te­cer caso des­obe­de­cesse as ordens de Mobu­tu. Segun­do Mail­er, o chão do está­dio ain­da con­tin­ha sangue no dia da luta. Como expli­ca­do no pos­fá­cio de Clau­dio Weber, muito das brin­cadeiras com palavras que Nor­man faz se per­dem na tradução para o por­tuguês, mas não com­pro­m­ete o texto. 

Recomen­dações:

Ali (2001), cinebi­ografia do pugilista dirigi­da por Michael Mann, com Will Smith no papel prin­ci­pal, bus­cou muitas infor­mações no livro de David Remnick


When We Were Kings (1996), doc­u­men­tário de Leon Gast, mostra como foi à luta entre Ali x Fore­man e con­ta com depoi­men­tos dos cita­dos Nor­man Mail­er e George Plimpton


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