Indie Game: O Filme (2011), de Lisanne Pajot e James Swirsky

Ain­da hoje con­si­go lem­brar de quan­do eu era ain­da bem pequeno e desco­bri o jogo Pac­Man em um Mac­in­tosh do com­puta­dor da min­ha mãe. Aqui­lo de cer­ta for­ma me mar­cou bas­tante. Depois veio Home Alone (que tin­ha uns 5 dis­quetes e eu prati­ca­mente que­bra­va o tecla­do de tão forte que aper­ta­va as teclas), SkiFree, HeX­en, Time Com­man­do, Con­struc­tor, Sim­C­i­ty 2000, … e a lista foi crescen­do bas­tante. Mas o que sem­pre me empol­ga­va mais neles eram os desafios e a história, não me inter­es­savam tan­to grá­fi­cos super real­is­tas ou “efeitos espe­ci­ais”. Foi jus­ta­mente por isso que quan­do soube que seria feito um doc­u­men­tário sobre jogos inde­pen­dentes, cujo foco cos­tu­ma ser jus­ta­mente essas car­ac­terís­ti­cas, fiquei muito ansioso para vê-lo assim que possível.

E a espera valeu a muito pena! Lança­do este ano, Indie Game: o Filme (Indie Game: The Movie, Canadá, 2012), dirigi­do pelos canadens­es Lisanne Pajot e James Swirsky, foi um dos primeiros filmes a con­seguir apoio por crowd­fund­ing no Kick­Starter, em 2010. Eles além de diri­girem, pro­duzi­ram, fil­maram, edi­taram e dis­tribuíram o filme, mais inde­pen­dente do que isso, impossível!

Quem não está famil­iar­iza­do ain­da com o nome, Indie Games são jogos inde­pen­dentes, cri­a­dos por uma pes­soa ou times pequenos, sem qual­quer tipo de finan­cia­men­to de empre­sas de dis­tribuido­ras de jogos eletrôni­cos (Nin­ten­do, Elec­tron­ic Arts, Cap­com, …). O que define um jogo como Indie são cer­tas car­ac­terís­ti­cas, como essas citadas ante­ri­or­mente, mas não há uma definição muito exa­ta para descr­ev­er o que real­mente é um jogo inde­pen­dente. O que pos­si­bil­i­tou que eles crescessem, foi a facil­i­dade que se tem hoje em dia da dis­tribuição, através da inter­net e das platafor­mas de jogos (que per­mitem com­prar, como a loja de aplica­tivos de celu­lar). Começou com Steam, depois foi cri­a­dos out­ros como XBOX Live Arcade, Playsta­tion Net­work, Wii Ware.

Lisanne Pajot e James Swirsky

Mas, voltan­do ao filme ago­ra! A ideia do pro­je­to começou logo depois da dupla ter pro­duzi­do em 2009 o cur­ta “Infi­nite Ammo — New Media Man­i­to­ba Busi­ness Show­case” (que pode ser assis­ti­do abaixo, mas infe­liz­mente sem leg­en­das), que em um pouco mais de 5min con­ta a história de Alec Holowka, um desen­volve­dor inde­pen­dente de jogos cri­ador da empre­sa Infi­nite Ammo. A fasci­nação pelo mun­do dos videogames, prin­ci­pal­mente no cenário indie onde pare­cia estar acon­te­cen­do as coisas mais inter­es­santes, ficou muito forte nos dire­tores após a cri­ação deste primeiro vídeo. Eles então pen­saram: por que não então faz­er um lon­ga? Assim ini­cia­ram fil­man­do algu­mas coisas e logo cri­aram um primeiro vídeo como pro­va-de-con­ceito do pro­je­to e que foi uma das prin­ci­pais razões para o suces­so do pro­je­to no KickStarter.

Difer­ente de um filme no esti­lo de doc­u­men­tário, Indie Game: O Filme segue uma nar­ra­ti­va mais pare­ci­da com um lon­ga de ficção, com uma mon­tagem não total­mente cronológ­i­ca, onde acom­pan­hamos de per­to os cri­adores antes do seu grande dia: o lança­men­to do jogo em algu­ma das platafor­mas grandes de VideoGames (Xbox, ..), pois muito do suces­so dele depende de como as ven­das serão no primeiro dia, depois dis­so as ven­das cos­tu­man só diminuir. Além dis­so, por con­ta de uma óti­ma edição, que ten­ta repro­duzir ao máx­i­mo as situ­ações como se elas real­mente estivessem acon­te­cen­do naque­le momen­to. Uma das cenas mais inter­es­santes neste sen­ti­do, é a que mostra o dia do lança­men­to do jogo “Super­Me­at Boy” onde vamos acom­pan­han­do por men­sagens que Edmund, um dos cri­adores, vai receben­do do seu sócio no celu­lar, sobre como está sendo o lança­men­to do jogo, como se estivesse envian­do naque­le mes­mo momen­to. Essa e out­ras situ­ações no mes­mo esti­lo, acabaram mudan­do total­mente a maneira de sen­tir a história do filme, man­ten­do um rit­mo muito inten­so e envolvedor.


Ape­sar de ter vários momen­tos em que são comen­ta­dos alguns detal­h­es mais téc­ni­cos dos jogos, como o que é impor­tante para con­stru­ir um, a sua mecâni­ca, … o foco do filme está longe de ser um man­u­al para pes­soas que querem faz­er jogos, mas sim nos sen­ti­men­tos e exper­iên­cias das pes­soas que estão por trás deles. Uma frase que resume bem isso é quan­do Tom­my (desen­volve­dor do Super­Me­at Boy) diz logo no começo do lon­ga que tem pes­soas que con­seguem se expres­sar escreven­do, que é a mel­hor for­ma que encon­traram para se expres­sar, ele con­segue se expres­sar mel­hor crian­do um jogo. O resul­ta­do final aca­ba sendo algo total­mente pes­soal e cheio de per­son­al­i­dade, algo muito difí­cil, senão impos­sív­el, de ser repro­duzi­do pelas grandes com­pan­hias de games. Já Jonathan Blow, comen­ta que colo­cou em seu jogo, Braid, suas fal­has e fraque­zas mais pro­fun­das. Enquan­to Phil Fish em Fez, criou algo onde o jogador pudesse sim­ples­mente jog­ar com cal­ma, explo­ran­do o ambi­ente sem se pre­ocu­par em ficar mor­ren­do ou der­rotan­do vilões.

A tril­ha sono­ra de Indie Game: O Filme merece tam­bém um destaque espe­cial, pois con­seguiu traduzir muito bem o esti­lo das músi­cas dos jogos esti­lo 8 bits, mas com um toque mais moderno.

Jim Guthrie

Ela foi cri­a­da pelo tam­bém canadense Jim Guthrie, que pos­sui um tra­bal­ho muito legal todo disponív­el para escu­tar na pági­na do Band­Camp dele. Recomen­do em espe­cial tam­bém os seus dois álbuns: “The Scythi­an Steppes: Sev­en #Sworcery Songs Local­ized for Japan” e “Sword & Sworcery LP — The Bal­lad of the Space Babies

Indie Game: O Filme é essen­cial para todos aque­les que gostam de jogos eletrôni­cos, mas tam­bém é muito inter­es­sante para quem quer ape­nas por curiosi­dade, con­hecer um pouco mais do mun­do por trás dos con­soles, que é muito mais com­plexo e difer­ente do que mui­ta gente imag­i­na. Além dis­so, o lon­ga é um ban­quete nos olhos de quem algum dia pen­sa em pro­duzir um doc­u­men­tário, pois pode ser usa­da como uma óti­ma refer­ên­cia em vários aspec­tos (mais infor­mações no próx­i­mo pará­grafo). O filme leg­en­da­do pode ser com­pra­do por $9,99 dólares no site ofi­cial para ser assis­ti­do on-line ou feito o down­load (sem DRM e disponív­el em vários for­matos, inclu­sive mobile).

Jogos acompanhados e seus Criadores

Edmund McMillen e Tom­my Refenes
Super­Me­at Boy
2010

Phil Fish
Fez
2012

Jonathan Blow
Braid
2008

Curiosidades

Super­Me­at Boy é o suces­sor do jogo em flash Meat Boy, que está disponív­el gra­tuita­mente para ser joga­do on-line no New­Grounds.

Um bom lugar para con­seguir Indie Games a preços espetac­u­lares são as pro­moções do Hum­ble Bun­dle, onde você com­pra um pacote de jogos e paga o quan­to quis­er. O legal é que você escol­he para onde o din­heiro está indo (desen­volve­dores, cari­dade ou para o próprio site) e se você pagar mais do que a média, gan­ha mais um jogo. O mel­hor é que os jogos rodam em Lin­ux, Mac, Win­dows e ago­ra Android também.

Para quem ficou inter­es­sa­do no proces­so de pro­dução do filme, eles fiz­er­am uma série de posts no blog chama­do “Indie Game, The Movie: The Case Study”, onde vão rela­tan­do com mais detal­h­es como foi a sua cri­ação. Tam­bém fiz­er­am um históri­co ger­al do pro­je­to, que reune pequenos comen­tários (e links para mais detal­h­es) sobre todas as eta­pas e datas impor­tantes do longa.


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