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Amantes Eternos (2013), de Jim Jarmusch | Crítica
A visão de mundo e do amor na ótica de seres praticamente imortais
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Ser imortal, ou pelo menos algo próximo a isso, é um desejo que inspira muitas histórias e pesquisas, passando desde abordagens mais místicas às mais tecnológicas. Essa condição, além de oferecer várias possibilidades, também levanta várias questões que são muitas vezes difíceis de se imaginar dada a brevidade de nosso tempo de vida. Como será que uma criatura perpétua se sentiria em relação ao caminhar da história da humanidade? E uma relação amorosa que durasse séculos? Estes são os dois fios condutores da trama de “Amantes Eternos” (“Only Lovers Left Alive”, Inglaterra/Alemanha/Grécia, 2013), dirigido e escrito por Jim Jarmusch.
Passando longe da ficção científica para criar tal condição, Jarmusch traz um novo olhar a criatura imortalizada (nos dois sentidos) por Bram Stoker: o vampiro. Antes que alguns torçam o nariz, não se trata de mais uma adaptação pueril ou uma desculpa para colocar pessoas em colantes pretos lutando entre si ou com monstros em câmera lenta. “Amantes Eternos” traz novamente os vampiros para o seu auge nas telonas, assim como fez “Entrevista com o Vampiro” (1994), de Neil Jordan, baseado na obra da escritora Anne Rice. Só que desta vez, o conflito principal não é uma crise existencial consigo mesmo, mas sim com a espécie humana em geral, aqui apelidada carinhosamente de zumbis.
Tal crise tem seus motivos mais que óbvios. Afinal, deve ser deprimente ver, e as vezes também conviver, com várias mentes brilhantes que são ignoradas e até mortas por conta de suas ideias revolucionárias, para somente depois de décadas, serem finalmente escutadas, mesmo que apenas parcialmente. Juntando isso a todo o conhecimento que esta pessoa iria acumular durante séculos, cria-se uma situação no mínimo desanimadora. Os dois personagens principais de “Amantes Eternos” são extremamente cultos, sempre lembrando de seus amigos do passado (Schubert, Gustave Flaubert, Shakespeare…) como se ontem houvessem conversado. Por conta disso, se tornam até meios esnobes, mas nunca sendo pedantes e sempre com um ótimo senso de humor nas suas referências e brincadeiras.
Para sobreviver todo esse tempo, além da constante mudança de local, há algo ainda mais importante a ser prezado: o anonimato. Afinal, seria difícil, para não dizer impossível, esconder a “imortalidade” sob qualquer tipo de holofote. Ou seja, nada de virar astros de rock ou vigilantes noturnos. Fazer isso seria como se intitular “agente secreto” quando todos sabem que seu nome é James Bond e que você é o 007. Mas voltando ao assunto do longa em questão… Adam vive em Detroit, uma cidade nos Estados Unidos que atualmente está praticamente abandonada, tendo declarado concordata no ano passado. Com certeza um dos melhores lugares para alguém se esconder atualmente no EUA.
Em “Amantes Eternos”, acompanhamos o casal Adam (Tom Hiddleston, o ótimo Loki de “Thor”), um músico ávido e genial, e Eve (Tilda Swinton, a imortal “Orlando”), uma amante da literatura, tentando sobreviver no mundo atual. Mas a composição de músicas já não consegue mais mascarar a insatisfação de Adam em relação a vida e a humanidade e Eve vai visitá-lo para ajudá-lo nesta crise. Falando em música, a trilha sonora é um dos grandes destaques do longa, sendo bastante sombria mas ao mesmo tempo sedutora, um verdadeiro post-rock vampiresco.
Com uma fotografia bem sombria, o filme se passa quase todo em ambientes fechados e mal iluminados, sempre a noite é claro. Este foi o primeiro longa filmado digitalmente por Jarmusch, que tem sérias restrições a respeito desse formato por não possuir, segundo ele, uma qualidade boa para áreas abertas e com muita iluminação. Mas como neste longa não há nada disso, acabou se adaptando perfeitamente a estas limitações. Outra curiosidade interessante é que dentro do set de filmagens, não era tocada nenhuma música, foi apenas distribuído um mixtape entre a equipe.
Para condizer com todo o discurso da anonimidade e conhecimento secular dos personagens, esses vampiros não possuem visualmente nada de extravante, tendo apenas como diferencial um cabelo bem animalesco (que foi criado misturando a partir da mistura de cabelo humano com pêlo de cabra e iaque). O longa também brinca com várias das concepções a respeito desses seres da noite, principalmente com a maneira que eles se alimentam, que é sensacional. Outro detalhe interessante está relacionado com a introdução de um novo, concebido pelo próprio diretor, para caracterizá-los. Vamos ver se você percebe ou percebeu qual é ele.
Resumindo em poucas palavras: se você gosta de filmes inteligentes e fica intrigado com as possibilidades de perpétuos sugadores de sangue, é bem provável que fique completamente seduzido por “Amantes Eternos”.
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