Literatura: Geração Beat (Parte 1)

Na déca­da de 80, os autores Bueno e Goés lançaram o livro O que é Ger­ação Beat pela edi­to­ra Brasiliense. Eles definem o esti­lo beat como “tex­tos em ação, prosa espon­tânea, fras­es do cor­po em movi­men­to, poe­sia brotan­do como visões do céu e do infer­no, lig­ação dire­ta da arte e da vida, da palavra e do cor­po”. Assim é a lit­er­atu­ra beat, palavras inten­sas que batem de frente com o con­formis­mo. Os beats cri­aram não só um novo mun­do literário, como mostraram aos leitores uma nova for­ma de vida, liber­dade e von­tade de mudança.

Quan­do falam­os de Ger­ação Beat, três nomes são destaque: Jack Ker­ouac, William S. Bur­roughs e Allen Gins­berg. Ess­es foram os autores mais impor­tantes, con­sid­er­a­dos líderes da Ger­ação. Out­ros nomes impor­tantes são: Gre­go­ry Cor­so, Carl Solomon, Lawrence Fer­linghet­ti e outros.

William S. Bur­roughs, ao con­trário de Ker­ouac, não uti­liza­va a prosa espon­tânea. Ele ficou con­heci­do como A Far­má­cia Ambu­lante da Ger­ação Beat, dev­i­do à grande quan­ti­dade de dro­gas que já havia con­sum­i­do até seus 30 anos de idade. Seu primeiro livro foi Junky, mas seu romance mais famoso é Almoço Nu. O próprio Bur­roughs disse em uma entre­vista à revista espan­ho­la Quimera que Almoço Nu foi escrito por insistên­cia de Ker­ouac: “Foi ele quem me ani­mou a escr­ev­er quan­do não me inter­es­sa­va real­mente fazê-lo. Mas quan­to à influên­cia, em nada me sin­to per­to dele”.

Um fato curioso sobre a vida de Bur­roughs é que durante uma bebe­deira ele pediu que sua esposa colo­casse um copo em cima da cabeça para que ele pudesse ati­rar no mes­mo. O prob­le­ma é que ele errou o tiro, assassinando‑a. Ele tam­bém esteve no Ama­zonas na déca­da de 50 em bus­ca da yagé, que segun­do ele era a “dro­ga defin­i­ti­va”. Almoço Nu gan­hou uma adap­tação para o cin­e­ma e foi lança­do no Brasil sob o títu­lo Mis­térios e Paixões, com direção de David Cro­nen­berg.

Quan­do trata­mos de poe­sia beat, temos óti­mos nomes, mas o mais con­heci­do é sem dúvi­da algu­ma, Allen Gins­berg. Seu poe­ma mais famoso chama-se Uivo. Esta obra pode ser con­sid­er­a­do “o cor­re­spon­dente poéti­co da prosa espon­tânea de Ker­ouac”. Sua poe­sia foi mar­ca­da por polêmi­cas, escri­ta em ape­nas uma tarde, ela nos mostra ima­gens sem sen­ti­do, nos reme­tendo tam­bém a Almoço Nu de Bur­roughs. Uma boa definição de Bueno e Góes para essa obra: “Marx trans­fig­u­ra­do na poe­sia deli­rante de Blake, rev­olução e visão, rev­e­lação e transformação”.

Vários foram os escritores que influ­en­cia­ram os beats, como Ernest Hem­ing­way, Hen­ry Miller, Mark Twain, Jack Lon­don, Thomas Wolfe, Walt Whit­man, J. D. Salinger, entre out­ros. A Ger­ação Beat tam­bém deixou sua mar­ca, influ­en­cian­do Chuck Palah­niuk e Irvine Welsh, seja pela nar­ra­ti­va ráp­i­da ou pela escri­ta ino­vado­ra, que ver­sam sobre o non­sense e a liber­dade de expressão, sob todas as for­mas. No Brasil, alguns autores foram influ­en­ci­a­dos por eles, assim como Caio Fer­nan­do Abreu, Joca Rein­ers Ter­ron, Jorge Maut­ner e José Agrip­pino de Paula.

Muito se fala da relação de Charles Bukows­ki com os beats. Ape­sar de escr­ev­er na mes­ma época e ter con­ta­to com alguns deles, ele não se con­sid­er­a­va um. Ele é con­sid­er­a­do o últi­mo escritor maldito da Lit­er­atu­ra Norte-Amer­i­cano, uma espé­cie de beat hon­orário. Bukows­ki tam­bém não tin­ha boas impressões de Bur­roughs, como nar­ra a citação: “Ape­sar de tudo, ver­dade ou não, Bur­roughs é um escritor muito cha­to e, sem a insistên­cia do pop instruí­do na sua bagagem literária, ele seria quase nada, (…)”.

On the road foi escrito à maneira de Ker­ouac, sem vír­gu­las, sem trav­es­sões, tudo de acor­do com a veloci­dade de seus pen­sa­men­tos. Assim é o man­u­scrito orig­i­nal. Para Ker­ouac, as vír­gu­las eram inúteis e os pará­grafos pausavam a leitu­ra de for­ma errônea. Ker­ouac cos­tu­ma­va escr­ev­er suas obras em pou­cas noites. Para alguns escritores isso era um fato bas­tante ino­vador, enquan­to que para out­ros, tal como Tru­man Capote, a escri­ta era um “mero ajun­ta­men­to de palavras sem nen­hum val­or literário”. Jack Ker­ouac foi sem dúvi­da algu­ma o prin­ci­pal escritor da Ger­ação, o seu acla­ma­do On the road foi para Ger­ação Beat o que O sol tam­bém se lev­an­ta de Hem­ing­way foi para a chama­da Ger­ação Per­di­da. O livro é con­heci­do como “a bíblia da ger­ação beat”. Tudo que os beats vivi­am e eram está per­son­ifi­ca­do na obra. Allen Gins­berg aparece no livro como Car­lo Marx, Bur­roughs como Bull Lee e Neal Cas­sady, como Dean Moriarty.

O enre­do con­siste basi­ca­mente numa ver­são literária da vida de Ker­ouac e dos beats. Ker­ouac aparece como Sal Par­adise, escritor que vive em bus­ca de novos sen­ti­dos para a sua vida. Cas­sady é Dean Mori­ar­ty, e jun­tos eles atrav­es­sam os EUA através da famosa Rota 66, que liga o leste e o oeste do país. Jun­tos, tam­bém chegam ao Méx­i­co. O livro nos traz sen­ti­men­tos, emoções, aven­turas, dro­gas, sexo, mul­heres e jazz. Todo o incon­formis­mo de Ker­ouac com o “son­ho amer­i­cano”. O país havia saí­do da Segun­da Guer­ra, a con­tra­cul­tura toma­va con­ta das ruas e da arte, e Ker­ouac não que­ria saber de nada daqui­lo, que­ria seu mun­do, sua liberdade.

Os efeitos que On the Road cau­sou são muitos ao lon­go dos anos. Espec­u­la-se que Bob Dylan fugiu de casa depois de lê-lo, assim como Chrissie Hyn­den, dos Pre­tenders. O livro impul­sio­nou Beck a se tornar can­tor e Jim Mor­ri­son a fun­dar sua ban­da, The Doors. Mar­lon Brando mostrou inter­esse em inter­pre­tar Dean Mori­ar­ty no cin­e­ma, mas desis­tiu logo depois dizen­do que o per­son­agem era repet­i­ti­vo. Fran­cis Ford Cop­po­la deteve os dire­itos do filme até 2006, quan­do foi divul­ga­da uma nota dizen­do que Wal­ter Salles iria diri­gir a ver­são para o cin­e­ma. Gus van Sant e John­ny Depp tam­bém já demon­straram inter­esse na ver­são cin­e­matográ­fi­ca do livro.


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