Literatura: Geração Beat (Parte 2)

Quem foi Neal Cas­sady? Esse nome é estran­ho para muitas pes­soas, inclu­sive para estu­diosos de lit­er­atu­ra. Talvez ele seja mais con­heci­do pelo pseudôn­i­mo que gan­hou no livro On the Road: Dean Mori­ar­ty. Ele foi o com­pan­heiro de aven­turas de Sal Par­adise, ao lon­go da Rota 66. Par­adise era ninguém menos que o próprio Ker­ouac. Jun­tos, eles cruzaram os EUA, chegaram ao Méx­i­co, exper­i­men­ta­ram diver­sos sen­ti­men­tos de amor e ódio e con­hece­r­am pes­soas difer­entes. Algu­mas pas­sagens do livro apon­tam uma cer­ta ten­são sex­u­al entre os dois, levan­do o leitor a crer que tiver­am algum tipo de envolvi­men­to dessa natureza. Depois, cada um seguiu seu rumo: Ker­ouac ter­mi­nou seus dias na casa de sua mãe, sofren­do de cir­rose; Cas­sady mor­reu de causas descon­heci­das, mas espec­u­la-se que ele teve prob­le­mas nos rins.

Cas­sady escreveu ape­nas um livro chama­do O Primeiro Terço, pub­li­ca­do pela edi­to­ra LP&M aqui no Brasil, que deixou inacaba­do. Nele, con­ta a tra­jetória de seus famil­iares, des­de seus avós, até chegar a cer­tos acon­tec­i­men­tos de sua infân­cia. Ele tin­ha muitos irmãos e seus pais se sep­a­raram quan­do ele ain­da era muito novo. Ape­sar de seu pai ser alcoóla­tra, Cas­sady demon­stra muito car­in­ho por ele ao lon­go de sua escrita.

Ele não escreveu como Gins­berg e tão pouco como Bur­roughs, sua escri­ta em quase nada se assemel­ha com o esti­lo próprio dos beats. Ele não criou um clás­si­co da lit­er­atu­ra, mas foi muito sin­cero ao escr­ev­er suas recor­dações. Sua prosa se difer­en­cia da de Ker­ouac, não é tão cor­ri­da, beiran­do o romance históri­co. Ao fim do livro encon­tramos algu­mas car­tas que ele tro­cou com Ker­ouac e, ali sim, sen­ti­mos a inten­si­dade beat. Ele expres­sa seus sen­ti­men­tos, seus delírios e sua ânsia de cor­rer o mundo.

Ele pode não ter tido tan­to destaque como escritor, mas sua figu­ra ficou mar­ca­da para sem­pre. Um exem­p­lo dis­so é que em cer­to episó­dio do seri­ado Lost, Ben (inter­pre­ta­do por Michael Emer­son) se hospe­da num hotel sob o nome de Dean Mori­ar­ty. Na lit­er­atu­ra de Arthur Conan Doyle, há o Pro­fes­sor Mori­ar­ty, inimi­go de Sher­lock Holmes. Teria Ker­ouac se inspi­ra­do nesse per­son­agem para cri­ar seu Dean?

Se fos­se necessário descr­ev­er a lit­er­atu­ra de Cas­sady em ape­nas uma palavra seria: hon­es­ta. Deve ter havi­do cer­ta pressão para ele escr­ev­er, vis­to que todos os seus com­pan­heiros pro­duzi­am obras a todo instante, mas para o leitor é algo nat­ur­al. Vemos o pas­sa­do daque­le que se tornou um ícone de liber­dade, mudanças e inqui­etação. Infe­liz­mente, poucos são os relatos que ele deixou.


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